sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os carros do Rei

Os fãs sabem que Roberto Carlos é um apaixonado por carros desde a infância. Ao som da música "Parei na Contramão" (vinha voando no meu carro quando vi pela frente, na beira da calçada um broto displicente...), de 1963, Roberto e Erasmo Carlos tornavam pública a paixão pelos carrões. E o sucesso ajudou a transformar em realidade cada um dos sonhos sobre rodas.
 
Essa paixão que atravessou décadas é apresentada ao vivo pela primeira vez na exposição "Roberto Carlos - 50 anos de música" que traz três dos seus carros de garagem: um Ford Escort 1990, um Landau limousine 1980, seu Calhambeque de uso, e outro que será sorteado por um fabricante de alimentos.
Um Escort displicente
 
O primeiro carro exposto tem uma das histórias mais interessantes. Trata-se de um aparentemente nada "especial" Ford Escort Guarujá 1992, cor preta, na rara configuração quatro portas. 
 
Há poucos anos, Roberto Carlos se apresentou numa casa de shows em São Paulo. Como de costume, uma vaga de garagem havia sido reservada para ele. Horas antes do início do espetáculo, em um momento de distração, um desconhecido Escort estacionou na vaga destinada ao Rei. Indignados e preocupados, a produção começou a questionar de quem era o carro "velho" estacionado na vaga tão especial. 
 
Para a surpresa de todos, a resposta era que o carro pertencia a Roberto Carlos. Ele mesmo tinha vindo dirigindo o Escort e estacionado na vaga. O veículo conserva toda a sua originalidade e tem poucos sinais de uso: apenas alguns riscos e um pouco de poeira sobre a carroceria. A única ressalva fica por conta do estado do carro, que não foi polido e preparado para uma exposição tão importante. As rodas são originais de época, com as inscrições "05-91", que indicam a data de sua fabricação.
Durante a abertura da exposição, o cantor confirmou à imprensa a história do Escort. Segundo Roberto Carlos, o  automóvel é de seu uso habitual quando está em São Paulo. Portanto se você é fã, anote a placa e siga o Escort preto.
 
Um carro para a majestade
Outro clássico exposto é o Landau 1980, transformado em limousine pela empresa Souza Ramos. O carro tem sete metros de comprimento, e conserva toda a sua originalidade, apesar do conjunto ótico modificado na frente.
 
O carro tem os pneus originais Pirelli P77, teto solar e todos os itens de série do Ford Galaxie Landau: câmbio automático, ar condicionado e direção hidráulica. O hodômetro marca apenas 37.612 quilômetros rodados. O interior do carro recebeu as modificações nas forrações de porta, revestimento dos bancos e teto. Tudo azul, é claro.
O Landau 1980 foi carro de uso habitual de Roberto, que só deixou de usá- no início da década de 1990.
Calhambeque é sua paixão à moda antiga
 
O lendário Calhambeque de Roberto Carlos também está exposto logo na entrada da Oca. Trata-se de um Ford modelo A, 1929, que Roberto comprou na década de 1960. Com o passar dos anos resolveu reformar o carro e o enviou à sua cidade natal, Cachoeiro do Itapemirim (ES), para um funileiro de sua confiança.
 
Foi neste tempo que o Calhambeque recebeu mecânica de Cadillac 6,0 litros, e uma caixa de câmbio hidramática além de um chassi encurtado e estreitado. Desde então, foi usado para os momentos de distração do Rei, seja na Estrada de Santos, ou na região da Serra, no Rio.
 
O carro da exposição foi novamente restaurado e customizado em 2008, sob o comando do campeão Emerson Fittipaldi. As únicas exigências de Roberto eram que o carro deveria ter ar condicionado e poderia ser de qualquer cor, desde que fosse azul.
A customização não alterou o desenho clássico do Ford A, que teve motor retificado, suspensão inteiramente refeita e lataria recuperada. Foram quatro mãos de tinta azul, e mais cinco de verniz. E o Calhambeque finalmente ficou pronto, lavado, consertado, bem pintado, um espanto.
 
Outro Calhambeque da exposição é um dos 50 veículos customizados pela equipe de Emerson Fittipaldi que serão oferecidos como prêmio pelo fabricante de alimentos Nestlé. Inspirado no Calhambeque "original", o prêmio é uma releitura do Chevrolet cupê 1933. Equipado com motor 2,4 litros e direção hidráulica, traz todo o conforto de um veículo moderno, com apelo vintage.
 
Por isso corro demais...
 
Aos seis anos de idade Roberto Carlos viu um jipe de brinquedo em uma loja de Cachoeiro do Itapemirim. Desde então, sua paixão pelos carros permanece viva com esta lembrança. O cantor queria seguir a profissão de mecânico de caminhões, mas o destino o levou a 300km/h para a estrada do sucesso. Seu primeiro carro foi um Fusca 1200 bege com interior vermelho, fabricado em 1960, que Roberto comprou em 1963. Em seguida vendeu o Fusca e comprou um Bel Air 1955, que foi danificado em um acidente pouco tempo depois.
Para não ficar sem carro, Roberto Carlos voltou à linha Volkswagen e comprou um Fusca usado. Em 1965 trocou o usado por um modelo novinho. Mas durou pouco, pois em seguida o Rei compraria um Impala vermelho, com interior branco, rádio e televisão. Depois vieram outros como um Cadillac 1964, um Oldsmobile 1966, um Willys Interlagos e outro Impala, um sedan preto.
 
Em 1968 ganhou de presente de sua gravadora um Jaguar E-type 1968, que inspirou o Rei a compor "120, 150, 200 km por hora", dirigindo pelas ruas de São Paulo.
 
Em 1971, ganhou também um Dodge Charger 1971, após o término das filmagens de "Roberto Carlos a 300 Km por hora".
 
No longa, Roberto Carlos interpreta Lalo, um mecânico da concessionária Chrysler Ibirapuera Veículos, que usava o carro de um dos clientes em aventuras pela madrugada no Autódromo de Interlagos. Nas gravações quase não foram utilizados dublês e o Rei ficou bem à vontade para acelerar fundo o belo motor V8 318.
 
Hoje, Roberto Carlos usa habitualmente uma Mercedes SLC 1978 conversível na cor prata, onde é fotografado constantemente pelas ruas do Rio de Janeiro.
 
Também gosta de dirigir seu Cadillac Fletwood 62 Series, de 1960. Há dois anos, as peças metálicas do carro receberam um banho de cromo, para renovar o visual e reforçar o tom vermelho. A bordo desse clássico nasceu mais uma música, em 2003: "Peguei meu Cadillac 1960, e nele me sentia com a metade de quarenta".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Inspeção Veicular em carros antigos: perguntas sem respostas

O tema da inspeção veicular ambiental, que é obrigatória também para carros antigos, está tirando o sono de muita gente. Afinal, esses veículos não tem a mesma tecnologia disponível pelos modelos atuais. Só estão dispensados do procedimento os carros com placa preta e os equipados com motores dois tempos, como os DKW. A imensa maioria dos donos de carros antigos está com um ponto de interrogação na cabeça, quando se fala em inspeção.

 
Como muitos carros antigos têm sido reprovados, o Auto Show foi buscar informações com a Controlar, empresa responsável pela inspeção na capital paulista e ouviu também alguns donos de carros antigos sobre a obrigatoriedade da iniciativa. Alguns pontos são unânimes entre os colecionadores:

A frota de carros antigos é ínfima diante dos 6,2 milhões de carros na capital. Sua "poluição" não tem representatividade diante da grande frota dos carros de uso diário, caminhões e motocicletas que circulam pela cidade;

Os carros antigos são usados eventualmente, e não no dia a dia. Um carro antigo costuma circular apenas nos finais de semana, em trajetos pré-determinados, e quase sempre curtos;

Os carros antigos recebem manutenção preventiva e cuidados especiais, além de representar uma relação sentimental com seus donos;

Deveria haver uma legislação específica para veículos antigos bem conservados quando se trata de inspeção veicular. Poderia ser por exemplo, uma inspeção visual para verificar as condições de rodagem e dos itens de segurança;

Quem mais polui ou atrapalha o fluxo de trânsito são os carros velhos, e não os antigos. Um pouco mais de fiscalização poderia resolver o problema e retirar definitivamente os carros velhos de circulação;
 


A despeito desta grande polêmica, muitos colecionadores concordam com a inspeção, mas discordam dos critérios: "Um carro antigo polui mais que um carro novo, isso é normal, pois tem motor maior, alimentado por carburador. No entanto, eu não uso meu Galaxie no dia a dia, e deveria haver uma legislação específica para os carros antigos bem conservados", explica  Carlos Angi, dono de um Galaxie 1967.

André Matias, dono de um Corcel II 1979, teve seu clássico reprovado na inspeção: "esse carro está na família há 20 anos e sempre esteve bem conservado e regulado. As regras não são claras. Simplesmente não entendo o motivo da reprovação", disse.



A Controlar respondeu nossos pedidos de entrevista mas se limitou a recomendar uma consulta a resolução 418 do Conama ou a portaria 149 da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, que estabelecem informações sobre a Inspeção Veicular Ambiental. A consulta nos levou a um quadro, com os limites das emissões:



O critério estabelecido na resolução 418 coloca todos os carros fabricados até 1979 no mesmo grupo, e não leva em consideração a motorização de cada modelo, sua respectiva carburação e alimentação. Ou seja, é um critério com força de lei, mas que não levou em conta o grupo dos carros antigos, que são regidos pela mesma lei dos modelos mais novos.



E as perguntas continuam. Afinal, um motor V8 de baixa compressão, usado até o início dos anos 1950, polui mais do que um antigo seis cilindros como um Opala ou um Maverick, fabricados no final dos anos 1970, e não há um critério específico para cada grupo. Um Fusca com motor boxer de 1300 cilindradas, fabricado em 1974, polui menos do que um Landau com motor 5.0 litros do mesmo ano e, no entanto, o critério de avaliação para ambos é o mesmo. Carlos Mendes, dono de um Mercedes 1972, teve o carro reprovado na Inspeção, e disparou: "eu não vou instalar injeção eletrônica no meu carro, mas também não sei o que fazer. É um carro com motor 6 cilindros, muito bem regulado e ajustado. Estão forçando os donos de antigos a rodar na informalidade, como os carros de periferia que não têm documentos e nem a mínima segurança".
 


Enquanto aguardam critérios mais claros para inspecionar carros antigos, seus donos discutem alternativas além dos ajustes feitos em mecânicos de confiança. E esperam dias em que a legislação irá respeitar a importância histórica dos carros antigos, que é um respeito à própria história.



Se você tem sugestões para resolver este tema polêmico, envie seu comentário ou sugestão para nós. Na próxima semana, daremos algumas dicas de  manutenção para ajudar na aprovação do seu carro antigo na Inspeção Veicular Ambiental.